ARTEFATOS NATURAIS E INDUSTRIALIZADOS

Por Thiago José Barros e Felipe Madeira - Publicado em 07 de Outubro de 2020

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Já percebeu que quando itens manufaturados tentam imitar algo da natureza, geralmente, o material entrega o quão antinatural ele é? A verdade é que quanto mais um artefato tenta se parecer com algo natural, maior é o seu estrago para o meio ambiente.

A natureza não pode ser copiada, assim como os benefícios derivados de seus produtos. Esses benefícios vão desde estéticos, passando por fisiológicos, psicológicos, técnicos e ecológicos, e a madeira reúne todos esses.

Porém, cada vez que o ser humano tenta replicar o natural a um custo baixo, o passivo para o meio ambiente é altíssimo. Geralmente essas cópias, como exemplos; pisos vinílicos, pisos cerâmicos e pisos cimentícios que imitam a aparência de pisos de madeira, são resultado das demandas originadas por práticas de consumo aceleradas e de baixo custo.

Essas práticas, geram uma enorme quantidade de resíduos nocivos e de forma rápida, para os quais o mundo não está equipado para lidar.

Ou seja, ao escolher um revestimento imitando madeira, com ciclo de vida curto e que será substituído rapidamente, estamos gerando um resíduo que a natureza levará séculos para se livrar, além de não aproveitar de todos os benefícios que a madeira real proporciona.

A não-naturalidade de pisos que imitam a madeira comparados com o de madeira maciça -Na ordem: Piso vinílico, piso maciço e piso cimentício – Acervo

 

Como utilizar madeira é bom para o meio ambiente
Benefícios ambientais e técnicos de sua utilização

Como uma opção sustentável, a madeira ressurge cada vez com mais força, pois além de bonita e durável, proporciona bem estar, estímulos sensoriais, facilidades técnicas e ganhos ambientais.

No campo da construção e decoração, a madeira reduz o tempo de construção, promove a diminuição de resíduos no canteiro de obras, além do efeito visual diferenciado das estruturas e revestimentos que compõem.

Além disso um produto de base madeireira, se caracteriza por apresentar durabilidade elevada, pois é passiva de renovação, e quando se faz necessário o descarte, a própria natureza rapidamente o transforma em alimento, ou seja, um produto biodegradável que tem seu ciclo fechado no meio ambiente.

Renovação da madeira –  Raspagem de piso de Madeira para aplicação de resina

 

Como a madeira interage com o nosso cérebro
Benefícios estéticos, psicológicos e fisiológicos de sua utilização

Indo além do aspecto ambiental e técnico, o uso de madeira no interior de um edifício trás benefícios fisiológicos e psicológicos claros, comparados inclusive ao efeito de passar o tempo em ambientes externos em contato direto com a natureza.

Os sentimentos de calor natural e conforto que a madeira proporciona as pessoas tem o efeito de baixar pressão arterial e a freqüência cardíaca, reduzindo o estresse e ansiedade. Em continuidade, é comprovado também que em ambientes de trabalho, sua presença aumenta interações sociais positivas e provoca a melhora da imagem corporativa de empresas.

No campo acadêmico,existem estudos que associam a madeira a estímulos além dos visuais, como olfativos, tácitos e fenomenológicos, além de ser empiricamente conhecido que a madeira traz um efeito de conforto e aconchego aos seres humanos.

Como exemplo aplicado desses benefícios, hoje existem grandes construções de madeira em todo mundo, inclusive no Japão, onde se mostraram excelentes contra incêndio e habilitadas a resistir de forma orgânica a terremotos, devido a sua capacidade de absorção de impacto.

Agora o que chama atenção, é que além dos benefícios técnicos construtivos, a madeira se mostrou uma ótima opção para em ambientes da área da saúde, justamente pelos benefícios fisiológicos e psicológicos que provê, como acontece na Clínica Maeda.

Localizado em Gotemba, no Japão, o prédio principal de 1.400 m2 da Clínica Maeda, especializada em doenças neurológicas, tem a madeira como seu elemento chave. O edifício foi feito completamente de troncos maciços da Finlândia e apesar de sua aparência caseira, o hospital é uma clínica neurológica altamente técnica e moderna, equipada com dispositivos especiais necessários para pesquisas sobre o cérebro e cirurgias exigentes.
A escolha de troncos naturais de madeira ​​como material de construção foi a sugestão do fundador da clínica, Dr. Maeda. Segundo o médico, “pacientes que passam longos períodos no hospital precisam de uma atmosfera relaxante e calmante, o que tem um efeito positivo em seus humores e recuperação. “

As instalações da clínica são agradavelmente tranquilas e harmoniosas para os pacientes que se recuperam de cirurgias. Somado a isso, devido a utilização da madeira maciça natural, a umidade do ar dentro do hospital se mantém ótima e especialmente benéfica para pessoas que sofrem de alergias e asma.

Clinica Maeda no Japão – Projeto Honka Log Houses – https://honka.com/en/b2b-architects/gallery-b2b-projects/neurosurgical-clinic-en/

 

A originalidade de um material natural
Porque um piso de madeira é tão estimulante

Outro ponto que se destaca quando tratamos de madeira natural, é a aparência única do material, onde duas peças nunca são iguais entre si, levando a estímulos sensoriais constantes quando nos encontramos imersos em um espaço revestido pelo material.

A madeira vem de árvores, um recurso natural, renovável e único, sendo sua aparência consequência de certas variáveis como; espécie, área geográfica onde a árvore cresceu, condições de crescimento, tamanho da árvore na colheita, serragem e outros processos de fabricação e acabamento, fatores esses que tornam a estética da madeira tão única e irreplicável.

Justificando a idéia de singularidade apresentada pelo material, podemos citar a sequência Fibonacci e sua relação intrinsecamente ligada aos padrões naturais únicos. Os números dessa sequência são facilmente encontrados no arranjo de folhas do ramo de uma planta, em copas das árvores ou até mesmo no número de pétalas das flores, determinando seus arranjos.

Como esta proporção trata de uma sucessão numérica, é possível perceber indicar a manifestação desta em muitos aspectos da composição das padronagens da madeira, mais uma razão que complexifica a aparência do material e indica ao nosso cérebro que aquela padronagem é natural, única e verdadeira.

Em contrapartida, quando tratamos das cópias, como em um piso vinílico ou mesmo porcelanatos e cimentícios por exemplo, não é possível imitar o efeito psicológico e sensorial que a madeira proporciona, além dos malefícios naturais que causam, relacionados a origem do material e seu futuro descarte na natureza.

 

Materiais copiados e antinaturais
Proposta de durabilidade que custa caro para a natureza.

Os avanços tecnológicos possibilitaram que o plástico pudesse assumir diversas formas, até mesmo copiando as naturais. Porém, quanto mais se afasta do seu estado natural, o gasto energético para a transformação de um material, é altíssimo.

Perceba que para transformar petróleo em plástico e plástico em um revestimento que se assemelhe a madeira, houveram diversas descargas energéticas e químicas no processo, tendo como resultado um material antinatural, que nosso meio ambiente terá enorme dificuldade de absorver.

Isso leva diretamente a maior poluição do ar, devido aos compostos químicos voláteis e o dióxido de carbono resultantes do consumo energético e produtivo. Somado a isso, como ponto negativo extremamente relevante, ainda podemos pontuar o passivo ambiental resultante do descarte do material.

Por mais que a proposta desses revestimentos que imitam a madeira seja de durabilidade, rapidamente nosso cérebro reconhece sua essência contraditória , nos levando a busca por mudança devido ao desinteresse ou estranhamento da forma, ocasionando uma breve vida para um material que ao ser descartado é altamente nocivo a natureza.

Vale ponderar que muitas das promessas de durabilidade dos revestimentos sintéticos são falsas, pois apesar de o material estar fixo e íntegro, geralmente sua aparência já está desgastada e impossibilitada de renovação.

E sabe o pior? Isso é proposital, pois a indústria gira a partir da velocidade do consumo, então essa obsolescência é praticamente programada, com intuito a levar a uma nova compra.

Nossos solos, águas doces e oceanos estão contaminados com macro, micro e nanoplásticos consequentes da produção e descarte abundante desses materiais sintéticos. A cada ano, seres humanos e outras espécies de animais ingerem cada vez mais nanoplásticos a partir de seus alimentos e da água potável, sendo os efeitos totais decorrentes desse consumo, ainda uma incógnita.

O crescimento desenfreado da poluição plástica precisa ser freado, e o poder para isso está nas mãos das escolhas conscientes dos consumidores.
Utilizar revestimentos plásticos, cimentícios ou cerâmicos, que imitam outros materiais como a madeira, parece ser uma solução de baixo custo e durabilidade, mas o maior custo está no impacto ambiental dessa decisão. Em linhas gerais, a conta dessa economia é paga pela natureza e possivelmente por nossas futuras gerações.

E o material reciclado? A idéia do reciclável, parece boa e muitas empresas chamam de “sustentável”. A verdade é que durante seu processo de manufatura, volta -se a injetar uma carga ainda maior de polímeros, mantendo o ciclo de consumo de petróleo e emissão de carbono altas.

Apesar do plástico poder ser reciclado, o ideal é evitá-lo, pois as políticas de reciclagem estão longe de serem eficientes, além do consumo energético e das formas danosas à natureza para sua obtenção.

Linha de extrusora de pisos de madeira plástica – a falsa ideia de sustentabilidade por trás de processos anti naturais -https://www.solostocks.com.br/venda-produtos/maquinaria-processar-plasticos/maquinaria-fabricar-produtos-plastico/linha-de-extrusora-completa-para-producao-de-perfis-de-pvc-madeira-pvc-2601090

 

Preservação e Progresso
A floresta é o caminho para o progresso e não empecilho

Então para evitar os materiais “falsos”, precisamos utilizar nossos artefatos e por isso, preservação não pode ser associada à empecilho ao progresso. Fato é que existem inúmeras formas de alcançar progresso mantendo a floresta de pé e altamente produtiva. Mas para isso é preciso uma mudança na cultura, focada na relação do homem com o consumo e na sua percepção sobre o meio ambiente.

Tudo que o homem consome vem da natureza, podemos até não ser capazes de rastrear a origem e relação, mas isso não quer dizer que não venha de lá.
Na verdade, quanto mais distante da imagem de artefato natural, maior a tendência do ser humano criar uma dissociação e assumir que aquilo não produziu mal direto a natureza, inclusive assumindo a ideia oposta, de que artefatos naturais, como um piso ou mobiliário de madeira natural, serem reais produtores de danos ambientais.
Cabe ainda afirmar que quanto mais distante da percepção de um artefato natural, maior foi o gasto energético para produzir essa transformação, o que incide diretamente em dano ambiental, visto que produção energética ainda é um grande poluente em países subdesenvolvidos como o caso do Brasil.
Além dessa variação de atributos, a madeira pode ajudar na gestão e conservação das florestas brasileiras pois; auxilia na manutenção da biodiversidade, além de ser uma ferramenta no combate aos prejuízos causados pelas mudanças climáticas – a madeira estoca carbono que seria lançado na atmosfera e agravaria ainda mais os problemas climáticos existentes hoje.
Precisamos entender que somos responsáveis pelas nossas escolhas, e que o mundo está pagando pela falta de consciência a respeito delas, pois estamos focados em um consumo excessivo e irresponsável.
Nossas florestas só conseguirão ser preservadas se saírem da visão romântica e bucólica para uma função social e econômica produtiva, e que inclusive fomente e justifique, além de sua preservação, também a sua expansão como território sustentável e produtivo.

 

Conclusão

No passado, a madeira era vista apenas como um material dotado de beleza e capacidade estrutural, mas com o tempo e os avanços em pesquisa, a ciência vem entendendo que esta matéria prima é muito mais complexa e rica em possibilidades.

A partir desse entendimento, existe uma oportunidade real da madeira, esse excelente recurso renovável, se apresentar com grande vantagem a frente de outros materiais altamente manufaturados e antinaturais, provando ser a melhor escolha para um consumo consciente e conectado com uma agenda de preservação ambiental e originalidade.

Para alcançarmos isso precisamos parar de pensar no imediato e entender que nossas escolhas tem um custo para a natureza, e o maior prejudicado nessa equação seremos nós mesmos.

É preciso abrir mão das falsas promessas e buscar um conhecimento que fundamente nossas escolhas, além de romper a cultura da romantização do ambiente natural. Nossa visão romântica da floresta propõe sua preservação através do esquecimento e intocabilidade, ou seja, se não se parece natural, estamos preservando.

Justamente essa visão deturpada por muito tempo incriminou a utilização de pisos e estruturas de madeira, com intuito justamente de alavancar a comercialização de produtos industrializados de fonte não renovável, tóxicos, porém de alta produtividade e baixo custo.
Original não morre falso, abrir mão do plástico e materiais não renováveis, substituindo-os por madeira de fontes legais e adeptas do manejo florestal, tem diversos benefícios e seu bem estar e a natureza agradecem.

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